Estou aqui fazendo um exercício - uma lista das coisas que aprendi desde o diagnóstico de autismo do meu filho.

- confiar no meu instinto - eu sempre soube dentro de mim que havia algo de diferente ali, eu só não sabia o nome. E se tivesse dado ouvidos ao pediatra da época pedindo que "respeitasse" o tempo do meu filho, não teria só perdido uma janela importante da intervenção precoce, mas também teria absorvido culpas que ele tentava me fazer carregar, como: "ele não fala por que você não lê para ele ou por que você não o estimula o suficiente."

- diagnóstico não é destino - ainda me lembro como se fosse ontem do fatídico 20/09/2018 - foi o dia que tudo mudaria! Muitas aqui já conhecem a história mas eu, na consulta com a neuropediatra, após o diagnóstico, só sabia chorar. A médica então me perguntou: Shadya, por que você chora tanto? E eu respondi aos prantos que só queria que o meu filho fosse feliz. Eu, com tanto medo do desconhecido, não entendia naquele momento, que o diagnóstico serviria de norte para a nossa trajetória, e que a felicidade do meu filho, dependeria da qualidade de tratamento que ele tivesse, do amor e carinho que nunca lhe faltaria e de escolhas que ele virá a fazer em sua vida.

- entender o meu processo e ser gentil comigo mesma - nas primeiras 5 semanas após o diagnóstico consegui montar uma equipe para atendê-lo e dar início à intervenção precoce. Mas a noite, eu continuava sofrendo, continuava chorando. Chorei todos os dias por mais de 1 ano e tinha muita dificuldade em pegar no sono. Tive que procurar ajuda médica e terapêutica - reconheci as minhas limitações e entendi que para ele estar bem, eu precisava estar bem também.

- ele é a pessoa mais importante da minha vida e sempre será - por muito tempo eu me anulei, abandonei a minha carreira que ia bem quando morava fora do Brasil e com o diagnóstico não pude retomar. Acabei me esquecendo de quem eu era antes de ser mãe, mas por conta desse mesmo diagnóstico encontrei o meu propósito no trabalho e hoje sou muito feliz com o meu próprio negócio.

- formar uma rede de apoio - trocar experiências com outras mães, rir, chorar, pedir conselhos ou direção de qual caminho tomar é uma das melhores coisas que você pode fazer! A maternidade em si é solitária, a maternidade atípica então...acabamos imersas num mundo à parte e quando podemos falar livremente para alguém que passa por situações parecidas, tudo fica mais leve! 


- O autismo do meu filho não vai a lugar algum - então não adianta eu querer correr com toda velocidade e ficar exausta já nos primeiros 500 metros se a jornada será longa. Como numa maratona, sinto que preciso planejar meus passos e meu tempo - isso é trabalho em construção quando se tem o diagnóstico de TAG.


Aprendi que o meu amor por ele nunca mudou e nunca vai mudar - o meu amor por ele está além de qualquer idealização ou expectativa.


Ele não precisa se diminuir para se encaixar em lugar nenhum - hoje em dia eu luto para que ele seja livre e se expanda para transbordar amor, verdade e ensinamentos, sendo quem ele quiser ser.
E nisso, eu pego carona, e aprendo que posso também ser vulnerável, posso ser eu mesma, livre na minha maternidade, livre como mulher.

Escrito e foto por Shadya Hamad em 02.02.23