Rafa foi dormir e eu vim para o meu quarto.Tomei um banho, fui até a gaveta das minhas meias, e escolhi entre elas, o par branco com listras azuis de malha quentinha. Sentei chorosa na cama.
Bernard percebeu e perguntou o que eu tinha. Eu segurava as meias nas mãos, e enquanto as vestia, voltei no tempo.
Lembrei-me da época em que eu era recém casada. Quando eu e Dani, uma amiga querida, íamos fazer compras inusitadas em um shopping chinês de Dubai. Lá comprávamos utensílios diferentes para as nossas casas e meias fofinhas!
Lembrei-me de como eu adorava chegar em casa após um dia longo de trabalho, tomar um banho quente, e vestir as minhas meias enquanto saboreava um chá gostoso, aquele natural, de verdade, que a gente comprava em lugares tradicionais.
Era o meu tempo para mim.
E aí ontem, mais uma vez, constatei que a maternidade tem me engolido...
Comecei a tentar explicar para o marido esse emaranhado todo que estava aqui dentro. Quando vi, estava aqui argumentando que me sentia forte e resistente como um castelo que no final era de areia. E todo dia, eu pegava uma pá e tirava um pouco dessa areia para construir um castelinho, e aí o castelo maior foi ficando pequeno, menos robusto, até deixar de existir, tipo a música "Dust in the wind", sabe? "All we are is dust in the wind!"
Ele entendeu, me abraçou e perguntou se podia me fazer um chá.
Eu me senti aliviada por ter conseguido explicar algo que parecia tão confuso na minha cabeça.
A maternidade é linda mas cansa. E quando a maternidade é atípica soma muitas dúvidas, angústias, medos e sobrecarga.
Mas se eu puder te desejar algo hoje, é que olhe para você. Na correria do dia a dia a gente não pára para pensar no por que estamos tristes ou esgotadas. Não dá tempo.E aí ligamos o automático e vamos vivendo. Até que o choro sem motivo (aparente) começa, a falta de vontade de levantar da cama vira uma constante e aí vamos nos fechando para o mundo por que estamos simplesmente muito ocupadas para tentar explicar.
Tome um banho quente. Ligue uma música que você gosta, Vista uma roupa que seja como um abraço gostoso. Peça ajuda para quem for.
Assim que acabar de escrever esse texto vou para a cozinha para me servir um chá, desses de mercado mesmo, o que tiver em casa, não importa.
O importante é a pausa e a minha reconexão comigo mesma.
Esse ano, tenho como meta, me lembrar de quem eu sou além da mãe. Eu sou muitas, e quero me reconectar com cada uma dessas minhas versões, para aproveitar de tudo um pouco, inclusive a minha tão sonhada maternidade.
Vamos juntas?
Por Shadya Hamad em 11.01.2023
Foto de Vero Manrique na Unsplash